sábado, 9 de agosto de 2008

o ninho


.é pela saliva que os oráculos se esboçam
nas madressilvas de infinitos pátios
despenham-se pássaros perfumados
e as palavras vivem em amado sangue púrpura
e cervicais vertiginosamente alimentadas.
como os poetas coronariamente
ajoelham em argilas cristalinas
dobrados pela noite dentro inata de cânticos frios e marinheiros
o diabo é natalício e bebe as espigas em grito
em pórticos destruídos e gritos de gansos pela cabeça.

um areal obsessivo
e um crepúsculo imaculado
e taças de veneno divinas
para algodoar o corpo antes que imensas vozes o bebam em corcel

os maxilares rompem rosados
em gerações de quadrúpedes e guerreiros disformes
crateras e cordilheiras
e o cérebro é um miolo de respiração infinitamente breve.

os meus pulsos ausentam-se
os livros antigos ao amanhecer violeta
definem alabardas azuis-líquidas
e barcos regressados das sepulturas âmbares

entre os lábios e a fala
onde rebentam folhas duma cor incómoda

entre livros e algum crime
a equívoca luz depois dos espelhos

então cerca-te explodindo pássaros
para afagar as vísceras
na próxima veia, à hora das fogueiras,

volto às películas.

Um comentário:

maria pragana disse...

Gosto de vários pormenores:

o facto de se seguir a um ponto;
os coronariamente poetas;
os gansos;
o corcel;
o cérebro miolo de respiração;
as alabardas...

Gosto disto na poesia - o festim dos vocábulos.